CIDADE

O joio e o trigo

Artigo escrito pelo Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho, professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


Publicado em: 04/08/2023 às 13:06hs

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Há joio no campo do Senhor. Não foi Jesus que o semeou, porque Ele, o Filho de Deus, veio para unicamente semear a Palavra do Reino de divino e Ele explicou que foi um inimigo que fez isto. Isto foi obra do maligno que é astucioso, insidioso. É que os trabalhadores dormiam. Eles tinham motivo para repousar, mas deveriam ter estabelecido um sábio   revezamento, para uma vigilância possível. Esta precaução era necessária dado que o mal é rápido quando se trata de o semear. Jesus sublinhou igualmente que o inimigo semeou o joio no meio do trigo e desapareceu, sabendo bem que seu mau grão cresceria sem ele, graças à boa terra preparada para o bom grão. O inconveniente com a má erva era que com o passar dos dias ela semelharia com o bom trigo e era impossível reconhecer o joio com certeza absoluta. Do mesmo modo na terra de nosso coração, quando nós deixamos o inimigo semear seus grãos de desgraça, como a desunião, o egoísmo ou a tristeza e outros males. É após um certo tempo que se constata o desastre e se lamenta que “meu campo está cheio de joio; meu coração que quer ser fiel a Jesus, se encontra dividido e apresenta simultaneamente frutos para a vida e germes de morte”. Então qual é o remédio? Os servidores na parábola vão então até o mestre do campo, com toda sua boa vontade, mas também com ilusões, e dizem “Quereis que nós vamos arrancar o joio”? É que este joio já havia produzido seus espinhos e já se podia reconhecê-lo. Diz o proprietário: “isto não, porque arrancando o joio se poderia arrancar o trigo com ele”. É lamentável que se encontre joio no nosso coração, nos grupos cristãos, nas nossas comunidades, mas o que é preciso é salvar antes de tudo e sobretudo o trigo que vai alimentar os homens, o crescimento do Evangelho em nossa vida, a expansão missionária da Igreja onde todos os povos encontrarão a salvação. Se para eliminar o joio é preciso arrancar o bom grão,melhor é ter paciência até a colheita; se para extirpar o mal é necessário comprometer os frutos do bem, melhor é deixar Deus fazer a triagem na Sua hora, Ele eu tudo conhece. “Deixai uma e outra semente crescer até a colheita”, diz Jesus. Poderia isto ser julgado uma atitude incoerente, tal o desejo de se viver num mundo puro, numa Igreja unida, numa comunidade ardente e unanime, Entretanto, é Jesus que tem razão. Isto porque Deus, sendo paciente até o julgamento, paciente com cada um de nós, sem destruir em nós as forças de vida para arrancar imediatamente o mal de nosso coração, Ele nos concede o tempo da conversão. Deus se reserva o julgamento, que Jesus descreve frequentemente no Evangelho como um momento da verdade, quando será revelado o íntimo dos corações e o valor real de cada existência. Deixemos a Deus a última palavra e guardemos a paz. O mal não ganhará nunca, nem no nosso coração, nem no mundo, se nós entregamos tudo a Deus. Jesus disse: “Tende confiança eu venci o mundo”” (Jo 16,33). O joio cresce e é frequentemente um escândalo, mas nós não temos para o combater em nós e em redor de nós, senão as armas do Evangelho, os instrumentos do grande Semeador. Jesus se estregou por causa de nossos pecados. Para impedir a expansão do joio no campo do mundo, Ele ofereceu a Deus sua vida dada aos homens e sua obediência. Ele semeia para o seu celeiro eterno a Palavra que salva, ilumina e é perene A semente boa é a palavra de Deus transmitida pelo sacerdote quando fala em nome de Cristo na cátedra sagrada, no confessionário ou nos instantes de aconselhamento espiritual. Nestes momentos Cristo se torna a luz para as inteligências, Ele que na Eucaristia é o alimento das almas. Esta palavra está contida na Bíblia Sagrada, a carta magna do Criador aos homens. Aí Deus diz ao ser racional quem Ele é e o que espera de cada um. É o grande dom divino de valor inestimável. A leitura assídua da Bíblia orienta, modifica o coração, esclarece a inteligência, sustenta toda vida do cristão.

 

Artigo originalmente publicado na edição impressa do dia 3/8/2023.