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Estudante da UFV acometido por super bactéria

Felipe contou ao Jornal Folha da Mata como foram seus dias, desde a descoberta da doença, até receber alta


Publicado em: 26/10/2015 às 11:52hs

Estudante da UFV acometido por super bactéria

O estudante da Agronomia da Universidade Federal de Viçosa, Felipe de Oliveira Lima da Silva, foi diagnosticado, no fim do mês de agosto, com meningococcemia, uma infecção bacteriana aguda, rapidamente fatal. Ele começou o tratamento no Hospital São João Batista e, depois 20 dias internados, conseguiu ser transferido para o Hospital das Clínicas, em São Paulo. No último dia 2, Felipe foi submetido a uma cirurgia de amputação dos membros inferiores, abaixo dos joelhos, e das falanges dos dedos médio e anelar da mão esquerda. Natural de São José dos Campos e órfão de pai e mãe, Felipe já está em casa. Mas, sem plano de saúde, ele pede ajuda de quem puder contribuir para a sua recuperação. O depósito pode ser feito no Banco Itaú, AG 6701, CC 02459-5, CPF 37526409874. Parentes e amigos também estão fazendo campanhas, por meio de redes sociais, na tentativa de angariar fundos para custear o implante de próteses para ele.

Felipe contou ao Jornal Folha da Mata como foram seus dias, desde a descoberta da doença, até receber alta.

“Fui ao Viijazz em Viçosa no sábado. Já no domingo, fiz um almoço para uns amigos do prédio e logo após fui ao condomínio ladeira buscar material para estudar para uma prova que teria no dia seguinte (segunda-feira). No trajeto, senti dores nos pés, mas não me preocupei por ter voltado a praticar atividades físicas na semana anterior e achei que as dores eram decorrentes dessas práticas. Em menos de meia hora, já estava em casa e continuava com dores. Por volta das 18h, um amigo, Carlos Eduardo Salgado, passou em casa e me deu um remédio para dor e acabei dormindo até por volta da 1h, quando acordei pela primeira vez. Fui ao banheiro ainda sentindo muitas dores nos pés. Fui escorando nos móveis. Tive diarreia e vômitos. Repeti esse episódio mais uma vez, porém sem vômitos. Na terceira vez que levantei para ir ao banheiro, já não conseguia encostar os pés no chão, não conseguia andar. Mas como a diarreia estava forte, tentei mesmo assim, mas engatinhando. Escorreguei da cama e fiquei de joelhos. Ao encostar as mãos no chão senti muitas dores nelas também e pulei de volta para a cama. Evacuei na cama, enrolei o lençol e joguei no chão para resolver no dia seguinte porque ainda não achava que era algo grave. Voltei a dormir, mas com muitas dores.

Na manhã seguinte, segunda-feira, eu dava monitoria às 8h. Como sentia muitas dores, resolvi não ir e continuei a dormir. Por volta das 10h, consegui sentar na cama e acender as luzes. Quando olhei para os pés e para as mãos, estava cheio de pintas roxas de aproximadamente 4 mm (petequeas). Me joguei pra trás e estiquei o braço para pegar o celular. Com muita dificuldade, mandei mensagem via whatsapp para a minha vizinha, Caroline Mendes, que viesse até o meu apartamento. Por sorte, havia dormido com a porta do apartamento destrancada, pois não conseguia andar mais. Prontamente ela me atendeu e veio. Minha voz já estava um pouco baixa e ela muita preocupada chamou uns amigos e também os pais de um desses amigos que lá moram. Começaram a chamar a ambulância, mas devido à dificuldade de contato e atendimento, o amigo já citado acima e seu pai me pegaram pelo colo e me levaram de carro ao Hospital São João Batista. Ao chegar lá fui levado diretamente para a urgência emergência, onde, graças a Deus, fui atendido por uma médica, que foi um anjo. Pois já de início, teve suas suspeitas, começou a se comunicar com outros médicos e me colocou direto no antibiótico. Graças a Deus, eu continuava consciente.

Cheguei no hospital já em choque. Pressão 50/30, pulmão lesionado, rins quase parando, entre outras complicações. Dentre as suspeitas da médica Doutora Márcia, estavam meningococcemia, leptospirose e riquetisiose. Após este momento, muitos amigos já estavam no hospital e minha família já estava a caminho. Sou de São José dos Campos – SP.

Fui transferido para a UTI numa área de isolamento (quatro dias), ao sair do isolamento, permaneci na UTI completando oito dias. Saindo da UTI fui para um quarto e fiquei aos cuidados do Doutor Cristiano (infectologista), Doutora Viviam e sua equipe. Continuei sendo tratado com antibióticos, mas já com necroses nos pés e nas mãos. Também passei por fisioterapia e etc, ainda no hospital.

Completando vinte dias, exatamente no dia 18/09, meu aniversário, consegui uma transferência com tratamento pelo SUS, através de minha família. Tive todo o tratamento possível em Viçosa, mas pelo fato do Hospital das Clínicas ser um hospital de ponta, talvez um dos melhores públicos na América Latina, minha família optou pela transferência.

Já em São Paulo, fui atendido por diversas equipes, dentre elas: cirurgia vascular, cirurgia plástica, ortopedia voltada diretamente para os pés. Mas após alguns estudos, todos foram unânimes para a amputação dos membros inferiores abaixo dos joelhos (amputação transtibial bilateral). O pé estava necrosado e o calcanhar fora o mais afetado e isso foi o maior responsável pelo diagnóstico de amputação.

Minha perna e meus braços estavam com muitas feridas devido à vasculite decorrente da doença (meningococcemia). As feridas dos braços começaram a sarar de uma forma inexplicável, porém as pernas ainda continuavam muito feridas. E a equipe da cirurgia vascular optou por aguardar mais um tempo para que essas feridas sarassem e assim delimitar a altura da amputação na tíbia. Em alguns dias uma infecção se instalou na necrose dos pés e também na pele da perna, passei a ter muita febre e devido a essa febre os médicos resolveram fazer a cirurgia de emergência, marcada para 30 de setembro. Ficamos muito ansiosos, pois não havia um horário definido. Sendo assim, a cirurgia não ocorreu neste dia já que houve muitas emergências no HC, ficando para o dia seguinte. No dia 1º de outubro, recebi a visita de alguns membros da equipe de cirurgia que informaram o motivo da mesma não ter ocorrido no dia anterior. Na madrugada do dia 1º para o dia 2, fui levado para a sala de cirurgia aproximadamente às 2 horas da madrugada. Às 4 horas foi dado início ao procedimento, o qual durou em torno de oito horas. Fiquei em observação e levado às 13 horas para a UTI, onde fiquei em observação na mesma até segunda-feira seguinte. Já na segunda-feira pela manhã, tive alta da UTI e fui para o quarto, pois já não havia mais complicações, somente as dores pós-cirúrgicas. No quarto, como continuava com as dores, comecei ser atendido pela equipe da dor e continuei sendo acompanhado pelos outros médicos e equipe de enfermagem da ala onde eu me encontrava (moléstias infecciosas).

As dores começaram a diminuir e o uso de morfina também e, de acordo com a avaliação dos cirurgiões vasculares e outros médicos, estava apto para alta. Na sexta-feira, 9/10, tive alta. Hoje estou em casa em São José dos Campos, onde minha família tem auxiliado em minha recuperação. Continuo tendo que viajar para São Paulo para fazer acompanhamento. Tenho tomado mais de 20 comprimidos, entre eles antibióticos, analgésicos, dentre outros. Ainda estou com algumas feridas nos braços as quais têm sido tratadas com dersani, um óleo especial para cicatrizações. Tenho feito curativos uma vez ao dia nas amputações. Os dois cotos das pernas e nas duas primeiras falanges dos dedos indicador e médio da mão esquerda.

Como sou órfão de pai e mãe, estou na casa de minha tia e madrinha e meus primos que tem cuidado de mim. No momento não tenho renda, pois na faculdade realizava trabalho de monitor e tinha uma bolsa. Atualmente tenho feito uso de cadeira de rodas e cadeira de banho e ainda preciso fazer fisioterapia para reabilitação e me preparar para a prótese. Tenho necessitado de uma alimentação especial, materiais de curativos, remédios e futuramente uma prótese.

Graças a Deus, tenho conseguido aceitar muito bem este momento, já que tenho recebido muitíssima força de amigos e familiares. Nunca me imaginei em uma situação dessas e nunca imaginei ter pessoas tão queridas em minha vida.

Obs.: Devido a forma como cheguei ao hospital, não foi possível colher o líquor da coluna e assim não foi possível isolar a bactéria que me infectou, já que também tomei muitos antibióticos. O diagnóstico clínico foi de meningococcemia”, finalizou.

 


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