CIDADE

Revitalização da linha férrea na UFV e parte do centro de Viçosa será licitada nesta sexta (9)

Segundo a prefeitura, o objetivo da obra é garantir o restabelecimento da trafegabilidade da via permanente que se encontra inativa desde 1994


Publicado em: 09/12/2022 às 08:03hs

Revitalização da linha férrea na UFV e parte do centro de Viçosa será licitada nesta sexta (9)

A Prefeitura de Viçosa realiza nesta sexta-feira, 9, a licitação para contratar empresa especializada em engenharia para promover a revitalização de um trecho de 6 km da linha férrea que corta a cidade, desde a antiga estação do centro, passando pelo campus da UFV até a divisa com o município de Cajuri.

Segundo a prefeitura, o objetivo da obra é garantir o restabelecimento da trafegabilidade da via permanente, que se encontra inativa desde 1994, de modo a atender o Plano de Mobilidade Urbana (PlanMob) da cidade, que prevê a reativação do modal ferroviário como alternativa para a melhoria da mobilidade na cidade.

O Executivo avalia que, embora abandonada há duas décadas, a linha ainda está em razoáveis condições de ser relançada, e seus trilhos ainda estão no lugar em todo o trajeto que se pretende revitalizar neste momento. 

“A recomposição da linha férrea resultará em um enorme desafogo de trânsito de veículos no centro da cidade, e um conforto extra para alunos, professores e visitantes da UFV. Além disso, trata-se da primeira etapa da recomposição da ligação férrea com a cidade de Cajuri, de onde e para onde se dirigem diariamente centenas de pessoas”, destaca a PMV na justificativa da licitação.

A obra foi orçada em R$892 mil e será financiada, em parte, com recursos estaduais, garantido via convênio com a Seinfra (Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade). A pasta enviou ao Município, em 2020, uma verba de R$500 mil, indicada em emenda parlamentar do deputado estadual João Leite (PSDB). O restante do custo, cerca de R$392 mil, será complementado pela Prefeitura.

O projeto foi elaborado na gestão anterior, do prefeito  Ângelo Chequer, que tentou licitar o serviço em 2020, mas nenhuma empresa apareceu para participar dos certames. Na época, a prefeitura ofertava R$540 mil pela obra e o valor não despertou interessados. Foram três licitações desertas, uma em agosto, outra em setembro e a última em novembro de 2020.

A gestão atual aumentou em 65% o orçamento da obra. Segundo a Diretoria de Projetos da PMV, a tabela foi atualizada pela Seinfra, de acordo com os valores atuais dos materiais necessários ao empreendimento.

A OBRA

A empresa que vencer a licitação ficará responsável pela revitalização de um trecho de 5.975 metros da antiga Ferrovia Leopoldina, entre o km 381 (Estação - Praça Hervé Cordovil) e o km 374, na divisa com Cajuri, sentido Sapé, após os Cristais). 

Na lista de serviços a serem executados está a troca dos dormentes danificados e sem condições de uso (75% estão deteriorados); nivelamento, alimento e limpeza da linha e drenos de água ao longo de seu curso; manutenção das passagens de nível; implantação de sinalização adequada; retaludamento em aterro próximo aos Cristais e, por fim, a escavação mecanizada e manual de material de calçamento ou asfalto existente sobre os trilhos ou junto aos trilhos que impeçam a rodagem ou encaixe dos frisos das rodas do trem no Centro da cidade.

O prazo para conclusão das obras será de até 90 dias, a partir da entrega da ordem de serviço fornecida pelo gestor do contrato.

DIAGNÓSTICO

De acordo com a Prefeitura, trata-se de uma via singela de bitola métrica, com capacidade para trens de 20 toneladas por eixo; possui raio de curva mínimo de 80 m; rampa (média) máxima 1,0 %; trilhos do tipo TR37 em barras de 12 m, fixados de forma direta com prego de linha; e dormentes produzidos com madeira comum.

A dormentação de madeira se encontra em estado variável. Existem dormentes completamente bons e dormentes totalmente deteriorados. A PMV acredita que cerca de 25% ainda estão em bom estado de uso. Ainda segundo a Prefeitura, a perda de bitola (distância entre as faces interiores das cabeças de dois trilhos em uma ferrovia) é praticamente geral ao longo do trecho, e existem locais onde o despregamento da linha foi total.

HISTÓRIA

A linha férrea a ser restaurada era originalmente parte da Estrada de Ferro Leopoldina, que operava extensa quantidade de linhas nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. O trecho que passa por Viçosa era conhecido como linha central da Leopoldina, e a ela se conectavam diversas outras linhas que atendiam outras regiões. 

O segmento se iniciava na cidade de Além Paraíba e atingia Viçosa, Ponte Nova, Dom Silvério e Caratinga. Em Ponte Nova, a Leopoldina se conectava com linha da Central do Brasil que vinha de Ouro Preto, de forma que se podia chegar de trem a Belo Horizonte, sendo, na época, uma linha de extrema importância na vida econômica e social de Minas Gerais, em especial da Zona da Mata.

A linha central da Leopoldina começou a ser construída em 1873, chegando em Ubá em 1879, subindo a Serra de São Geraldo, passando por Viçosa e Ponte Nova em 1886, mas a inauguração do atual traçado pelo interior de Viçosa se deu em março de 1914.

A estação ferroviária de Viçosa está localizada no km 381,498 da linha, com referência do início na cidade de Além Paraíba. A estrada de ferro Leopoldina foi de extrema importância para a cidade, principalmente no período entre o fim do século XIX e o início do século XX, quando colaborou para expansão do plantio do café na região, permitiu o acesso aos grandes centros da época, e foi o principal transporte dos tecidos da precoce fábrica de tecidos São Silvestre. Em 1926, trouxe o trem presidencial para a inauguração da Escola Superior de Agricultura e Veterinária, hoje UFV.

Desde 1898 a Leopoldina era de propriedade e gerida por ingleses, situação que perdura até 1949, período no qual é chamada de The Leopoldina Railway Co. Ltd. A partir de 1949, a Leopoldina passa a ser propriedade da União, e em 1957 passa a fazer parte da RFFSA, empresa estatal federal criada para unificar as diversas empresas ferroviárias que o governo já detinha naquele momento.

Na década de 1960, inicia-se no país a erradicação de linhas de ramais considerados deficitários, e o conjunto da Leopoldina começa a perder ramais. Em 1996, no bojo do processo de privatização do governo FHC, a RFFSA é dividida em cinco partes, que são distribuídas por concessionárias privadas interessadas em garantir que os produtos de suas controladoras continuassem chegando aos portos. 

O pouco que já restava da Leopoldina é passado para a FCA (Ferrovia Centro Atlântica), de propriedade da Vale, que não a vê como parte de seus interesses econômicos e inicia um doloroso processo de paralisação de atividades e de abandono.

Conhecida então como Linha Mineira, ela conectava BH a portos do RJ, passando por extensa região e cidades importantes. Apesar de todo este seu potencial de cargas e passageiros, a Linha Mineira tem seus últimos trens transitando nos últimos anos do século passado. A última locomotiva passou por Viçosa em 21 de outubro de 1996.