CIDADE

Bem aventurada aquela que acreditou

Artigo escrito pelo Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho, professor no Seminário de Mariana durante 40 anos


Publicado em: 23/12/2021 às 15:34hs

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Duas mulheres se cumprimentam no limiar da Nova Aliança: uma já idosa, a outra ainda jovem. (Luc 1,30-45). Ambas sintetizam toda história santa. Em sua velhice Isabel representa bem o passar dos longos séculos de preparação para a vinda do Messias e Maria em sua juventude, sem mancha e sem ruga, anuncia a Igreja de Jesus. Elas têm em comum sua esperança e sua maternidade, mas sobretudo fazem que esta maternidade as engajem inteiramente no plano de Deus e as duas crianças que haveriam de nascer são filhas do impossível diante dos homens, pois Isabel era estéril e Maria antes havia decidido ficar virgem.

Ambas demonstram que nada é impossível para Deus, não obstante a diferença entre as duas crianças que elas em si traziam, dadas as circunstâncias que as envolviam. Uma por milagre é o filho de Zacarias, a outra, também miraculosamente, é o Filho de Deus. No entanto, é Maria quem saúda primeiro e não sua prima, pois ela era a serva do Senhor que trazia o Servidor.

Entretanto, desde que o som de sua voz chega a Isabel ela sente seu filho rejubilar seu seio. Nisto não há nada de extraordinário para uma mãe que estava no seu sexto mês, mas o notável é que o Espírito Santo é quem faz irrupção nela, e lhe desvela a mensagem simbólica deste movimento da criança no momento mesmo da chagada de Maria. Isabel exclamou em alta voz numa dupla benção: “Bendita es tu entre as mulheres e bendito é fruto de teu ventre. Como me é dado que venha a mim a mãe de meu Senhor’? Ela se situa no seu verdadeira lugar diante da jovem mãe do Messias. Ela percebeu que a exultação de seu filho era consequência da presença do Redentor esperado ansiosamente por todos, já que Maria trazia em si o Salvador da humanidade. Tudo isto resultado do encontro invisível de duas crianças extraordinárias.

Jesus reveste sua mãe de sua dignidade de rainha, João desperta a sua mãe ao acolhimento do mistério das obras de Deus. Estava anunciado ao mundo que a desgraça causada por Eva estava para sempre superada e o Espírito Santo quis que o primeiro diálogo sobre a redenção do mundo fosse aquele de duas mulheres grávidas, imagens perfeitas da realização desta felicidade.

A nota de notável ventura que completa a saudação de Isabel: “Bem-aventurada aquela que acreditou que que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor”, reluz neste diálogo maravilhoso. A beatitude de Maria se enraíza na sua fé e Jesus mesmo proclamará isto solenemente no dia em que uma mulher na multidão elevará sua voz para lhe dizer: “Bem-aventurada a Mulher que te trouxe e te alimentou. Cristo então responderá acentuando algo essencial: “Tu queres dizer, a mulher que acolhe a palavra e a guarda”. Eis aí a felicidade de todos aqueles que edificam sua vida baseada na fé nas promessas de Deus.

Todos nós temos necessidade de que a Igreja nos traga esta certeza de que haverá uma realização plena de tudo que foi dito da parte do Senhor e Cristo, invisivelmente está a ponto de crescer no mundo, na nossa comunidade, na nossa família e no coração de todos os que querem se aproximar das realidades divinas prometidas. Cristo veio, vem e virá. Veio na sua humildade, vem na sua intimidade através da Eucaristia e virá um dia na imensidão do clarão de sua glória. Entretanto porque a fé deve ser cultivada, porque a esperança deve rebrilhar em nossos corações, Maria que visitou Isabel, quer vir nos visitar da parte de Deus e clama para nós: “O Senhor está próximo!” E repetiremos inspirados nas a palavra de Isabel: “Donde nos vem a felicidade vir até nós tantas graças através da Mãe de nosso Senhor!

Tudo isto a envolver num gaudio profundo que borbulhava no íntimo dos corações de Isabel e Maria repercutindo nas montanhas da Judéia. Júbilo de Maria, uma mão que traz em si um filho que é o Messias prometido e que já antes de nascer era o peregrino divino que tudo abençoava por onde passava. Alegria de Isabel cujo filho rejubila no seu ventre com a presença de Jesus. Para participar desse gaudio, para gozar esta mesma alegria que reinava nos corações de Isabel e Maria é preciso, porém, abrir nossa mentes à fé e à ação constante de Deus em nossas vidas, Fazer-nos peregrinos com Jesus, estar unidos àquela que acreditou.

Pelos caminhos da terra, em sua caminhada um cristão deve levar consigo sempre as dimensões da fé, ou seja, a união com Deus e o serviço aos outros que contemplamos em Maria que foi-se colocar a serviço de sua prima santa Isabel Estamos próximos do Natal e, por isto, a Liturgia fixa nosso olhar nestas duas futuras mães com todas as belas mensagens que estamos meditando, mostrando que as luzes divinas promanam da fé e esperança que se enraízam no íntimo dos corações daqueles que sabem escutar os apelos de Deus.

Estejamos sempre engajados no caminho da confiança, da fé no acolhimento da salvação que Jesus veio nos trazer.