Assim como o gozador implacável, ele nasceu quando esta terra ainda não era viçosa e se chamava apenas e tão-somente Santa Rita do Turvo. 

Quando suas vias públicas ainda não apareciam em fotos e se resumiam à Rua de Cima, à Rua de Baixo, à Rua da Chácara, à Rua das Vassouras, à Rua dos Passos, ao Largo da Matriz, ao Largo do Rosário e, talvez, à Rua do Cruzeiro.

Constituíam-na casarões que abrigavam sobretudo fazendeiros, um ou outro dono de empório, o advogado, o farmacêutico, o vigário.

Fato sociológico interessante: na época, pobres e escravos não possuíam morada em perímetro urbano. Pobres e escravos ou eram agregados – aqueles que vivem numa família como pessoas da casa e executam trabalhos domésticos – ou ficavam circunscritos à zona rural, palco maior das suas atividades.

Mas Benício Martins – e também Randolpho Sant´Anna – cresceram com a vila que, logo logo, se torna cidade. Que de imediato se torna Viçosa. Que célere espalha seu viço para outras plagas. Que ligeira chega à Corte com um deputado e um senador.

Que em 1889 já tem a ‘Lyra Viçosense’, em 1892 já tem o jornal ‘Cidade Viçosa’ – sem a preposição – e em 1898 já tem o grupo dramático ‘Paladinos do Progresso’.

E tem um intercâmbio considerável com as comunidades da região. Ilustra-o a história que circula por estas bandas há mais de um século...

* * *

Alguém na roda comenta como foi o baile no Herval (hoje, Ervália) e Benício Martins querendo aparecer:

- Eu estava lá. 

Relata o casamento na Estação do Turvo (hoje, Cajuri) e Benício fazendo tudo para se sobressair:

- Eu estava lá. 

Discorre sobre a pescaria em Porto Seguro (hoje, Porto Firme) e Benício saliente:

- Eu estava lá. 

Narra as bodas na Palestina (hoje, Canaã) e Benício assanhado: 

- Eu estava lá. 

Descreve o frio da Serra dos Arrepiados (hoje, Araponga) e Benício tremendo I:

- Eu estava lá. 

Conta como foi o tiroteio em Barra do Bacalhau (hoje, Guaraciaba) e Benício tremendo II: 

- Eu estava lá.

Aí Randolpho Sant´Anna – tremendo III – perde a paciência:

- Gente, Benício é igual a Deus. Está em toda parte...