Publicado em: 18/11/2021 às 16:10hs
Quando Dr. Edson Potsch Magalhães era Reitor da então Universidade Rural do Estado de Minas Gerais - UREMG, veio-lhe de presente da Bahia um peru daqueles bonitos, um autêntico galináceo doméstico, cujo nome científico é muito complicado para este escriba.
Na mesma época, Flávio Abranches era goleiro do Atlético e também vivia às voltas com os galináceos – Frangueiro! Frangueiro! Frangueiro! –, tendo inclusive reservado um peru para dar de presente ao fiscal do IBC, que enxergava pouco.
O peru do Magnífico vivia na Rua Vaz de Melo, 45, na casa do concunhado Duarte Tafuri, numa gaiola limpa, tratado a couve picada, alface tenrinha, pão molhado no leite. Coisas assim.
O peru do Flávio vegetava escondido da turma, na Rua São José, na casa de um amigo, no fundo do quintal, tratado a sobra de comida, e olhe lá.
E a turma estava de olho no peru do Flávio. No peru do Reitor quem haveria-de?
E exatamente o primogênito do Dr. Edson é que foi buscar o peru na Rua São José.
O amigo do Flávio bem que desconfiou:
- Óia só no que vai dá isso!...
Mas era o Dr. Lidson, filho do Reitor, que fora apanhar...
E lá se foi o Dr. Lidson com o peru para a casa do Duarte Tafuri, para engordá-lo na nobre companhia.
Os dois perus tiveram uma convivência pacífica, não obstante sobressaísse a diferença entre ambos:
- O do Dr. Edson era nobre. Impostava a voz. Colocava bem os pronomes. Tinha vocabulário aprimorado. Português castiço. Linguagem escorreita. Fazia ‘glu-glu’ em vinte e oito idiomas.
- O do Flávio era plebeu. Mal educado. Cuspia no chão. Errava na gramática. Cometia solecismos. Ao tentar fazer ‘glu-glu’, trocava o ‘l’ por ‘r’.
Chegou o dia do banquete. Lidson, Sabiá, Janoti, Pimenta, Cacau, Zé Pimentel e não-sei-mais-quem estão debaixo das mangueiras da casa da Sônia e do Diógenes, sendo que este havia deixado daquela besteira de, em plena luz do dia, andar pelas ruas de Atenas com uma lanterna à procura de um homem, e agora estava em Viçosa dirigindo uns automóveis e aderindo à molecagem.
Lá também estava o Flávio, que nem sabia exatamente para que estava ali.
Mesa posta, Lidson começa a ler o panegírico do galináceo sacrificado, peça oratória saída da pena do compadre Sebastião Lourival Leite – o Pimenta – e de outros moleques. Discurso elogioso, laudatório, encomiástico. Digno do primogênito do pai.
E o peru tostadinho, de cotoco de pernas pra cima. E a turma lambendo os lábios.
E o Lidson já na peroração:
- ... e sete sóis são translatos...
E o Flávio lambendo os beiços e pensando:
Ah se meu sogro estivesse aqui! Ele daria a réplica num improviso de 20 laudas em espaço um!
Finalmente Lidson termina a oração panegirical, embora não entendendo certas insinuações, mas pensando estar gozando o Flávio:
- Eis um magnífico peru! Tenho dito.
Aí Sabiá, mestre maior de todas as molecagens, aproveita o que foi dito e faz a observação esclarecedora:
- Gente, de fato este é um magnífico peru!
E completa:
- O do Flávio estava meio magro. Por isso pegamos o do Magnífico Reitor...