CIDADE

Fim do mundo e a vinda de Cristo

Artigo escrito pelo Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho, professor no Seminário de Mariana durante 40 anos


Publicado em: 18/11/2021 às 16:18hs

...

Neste domingo, penúltimo do Ano Litúrgico, o Evangelho de São Marcos, nos leva a meditar sobre o fim do mundo e a nova vinda de Cristo (Mar 13,24-32). Em todo capítulo 13 os discípulos são admoestados sobre o que infalivelmente acontecerá no fim dos tempos, não são somente as inevitáveis catástrofes que atingirão todo o mundo, mas, sobretudo, as perseguições que não deixarão de atingir os discípulos de Jesus, que terão que sofrer por causa de seu nome.

No texto de hoje Jesus emprega uma linguagem especial, até mesmo estranha, para anunciar sua nova vinda. Esta linguagem já era empregada no Antigo Testamento, inclusive pelos profetas. Os doía primeiros versículos remetem ao que o Criador fez no quarto dia da criação (Gn 1,14-19), sol, lua e estrelas servindo para marcar os dias e os anos, e sua descrição indica o fim dos tempos, o termo da criação.

Tais são os sinais da vinda do “Dia do Senhor”, isto é, do Grande dia de Deus como haviam anunciado os profetas (Is 13,10: Jer.10-11), A vinda do Filho do homem é predita no Antigo Testamento pelo profeta Daniel (Dn 7,113-14). O poder e a glória do Filho do homem, quando Ele virá sobre as nuvens do céu, Ele a luz verdadeira, único luz definitiva. Os discípulos se alegrarão, os primeiros entre os eleitos de Deus a serem reunidos pelo Redentor, seu Senhor, vindo com grande poder e glória, mas antes deverão sofrer a perseguição por causa do nome de Jesus Os anjos serão os servidores do Filho do homem pela sua semelhança maior com os eleitos.

A expressão “da extremidade da terra até à extremidade do céu” (v l3,27), mostra bem que a glória com a qual o Filho do homem será revestido, o poder que Ele exercerá se estenderá sobre a terra como também, no céu no conjunto da criação. Quando isto vai acontecer, chegará tanto para os ouvintes de Jesus, seus discípulos, e também para os ouvintes de hoje, ou seja, para os que estiverem vivos.

Ninguém sabe nem o dia nem a hora, só Deus o sabe. O certo é que todos morreremos, mas ninguém pode prever quando isto se dará.

Portanto, é preciso velar para estarmos preparados, quando Deus assim o determinar, ou seja, estar dispostos para lhe abrir a entrada, assim que Ele bater à porta. Cumpre então viver na condição de quem está atento, numa postura de quem se acha à espera de seu Senhor na mais viva esperança. Não se deve entregar a uma vã inquietude, mas, isto sim, se abandonar nas mãos do Pai no que concerne o dia e a hora da vinda do Filho do homem (v. 23,13,32). O abandono ao Pai é o outro nome da fé.

O Pai, o Filho e o Espirito Santo estão presentes e agindo no mundo e na história. Jesus inaugura o tempo de seus seguidores, de todos os seus discípulos. A eles Ele pede bem considerar a existência própria. O que dá sentido para quem se diz cristão é a relação profunda com o divino Redentor e não a sua situação no mundo que se torna algo exterior. Nisto consiste a conversão, ou seja, viver em função de Jesus e não de acordo com as injunções exteriores.

Em todos os tempos o que deveria prevalecer é a Palavra de Jesus sobre o mundo algo externo no qual se vive a expectativa das promessas do Filho do homem e em virtude desta perspectiva tudo mais se torna então secundário. Jesus morreria na cruz e ressuscitaria, iria para junto do Pai, mas voltaria oferecendo a salvação a todos que vivessem a sua Palavra e isto se torna um grande presente de Deus que é preciso receber com amor. Donde ser necessário estar de fato atentos porque não se sabe nem o dia nem a hora da vinda de Jesus.

Portanto, Jesus nos interpela sobre a realidade de nossa fé, de nossa união com Ele, e nos convida, desde agora, a nos preparar para o reencontro com Ele depois de deixarmos este mundo.

Por isto se deve viver cada dia como se fora o último Isto significa que o cristão deve estar sempre preparado para em qualquer momento em que o Pai o chamar ele esteja em situação de comparecer ante o tribunal divino. Trata-se do estado de alerta no qual deve viver o autêntico discípulo de Cristo. É certo que nossa visão com relação à vinda definitiva do Filho do homem é feita muitas vezes de um certo temor, pois nem sempre pensamos nestas realidades.