CIDADE

A UNIÃO MÍSTICA COM CRISTO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho - Prof. no Seminário de Mariana durante 40 anos..


Publicado em: 30/04/2021 às 09:03hs

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Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

De uma maneira maravilhosa Jesus nos fala sobre a nossa união com Ele (Jo 5,1-8). Duas assertivas entretanto merecem, de início, nossa atenção: “Sem mim nada podeis fazer”, declaração peremptória; e uma promessa admirável “Quem permanece em mim e eu nele produz muitos frutos”. Quem deseja ser verdadeiramente cristão não pode ficar indiferentes a tais palavras deste Mestre divino. Ou tudo com Ele e sem Ele nada. Isto por que Ele é a verdadeira vinha, uma vez que é aquele que corresponde plenamente à confiança que Deus havia colocado no povo escolhido, mas que, ante suas infidelidades e recusas estéreis, teve que se queixar: “Que mais poderia fazer pela minha vinha que não o tenha feito? Porque esperando eu que me desse boas uvas, produziu apenas   agraços, isto é, uvas verdes? (Is 5,5). Não obstante tudo isto, depois de tantos profetas rejeitados, de idolatrias irrisórias, de favores malbaratados, crimes vergonhosos, Jesus desceu do céu à terra afirmando “Eu sou a verdadeira vinha”, Ele o justo, o santo, o bem amado do Pai, a vinha por excelência. Vinha única e universal ou, no dizer de Santo Agostinho, “o Cristo total” que quis reunir toda a humanidade salva por Ele, que é a fonte da verdadeira vida. De fato, literalmente a seiva da vida do homem regenerado, por que nele é que o Pai faz de nós seus filhos adotivos (Rm 8,15). Graças a Ele somos concidadãos da casa de Deus (Ef 2,20), formando o que a Escritura chama com toda razão a vinha do Senhor. Seu Pai é o divino agricultor que quer cultivar esta vinha até os confins da terra. Na Cruz Cristo se tornou, de modo especial, na expressão dos escritores místicos, este cacho esmagado, quando ofereceu para a humanidade a bebida da vida eterna. Cada dia aqui na terra o vinho da sua vinha se torna o sangue na admirável transubstanciação em cada Missa que é celebrada e, lá no céu, o vinho novo no Reino de seu Pai nas bodas eternas.  Sublime a comunhão eucarística de cuja plenitude recebemos graça sobre graça. Como escreveu São Paulo, nele habita, conjunta com a humanidade, a plenitude da divindade e nele temos plenamente tudo (Cl 2,9). Ora se, assim é, só nos resta uma profunda gratidão. Grande o amor do Pai que quis plantar nesta terra esta Cepa divina , enviando seu Filho único (Jo 3,17) Deste modo, por Ele, com Ele e nele, todos podemos receber e partilhar a Vida, sua Vida divina. Entretanto, o mais belo deste maravilhoso mistério não é somente que o Senhor se fez Ele mesmo por nós a verdadeira vinha, mas desejou que nos tornamos nós mesmos sua própria vinha, uma vez que Ele é nossa cepa e nós somos seus ramos. Nossa genealogia está nele. Quem nos criou também nos regenerou! Nunca se medita demais nesta sublime realidade. O cristão se apoia   neste fundamento e nunca, portanto, está isolado, abandonado. Está ligado a um tronco que o suporta, achando-se insertado diretamente na vida divina que nele corre. A existência do cristão verdadeiro, portanto, é útil e boa porque repleta de esperança e de sentido. Cumpre então que ele dê muito fruto. Grande e prodigioso mistério. Vivemos, nos movemos, agimos, sofremos e morremos, mas Cristo está sempre conosco, pois Ele vive, age, sofre e morre em nós. Ele é a semente, a seiva que está no batizado. A vida eterna lhe é garantida numa grandiosa esperança porque os germes da ressurreição estão já inscritos nos seus corações. Tudo isto é verdade e nós podemos dizer que nós vivemos nele, porque Ele mesmo vive em nós (Gl 2,20). Eis porque sem Ele nada podemos realizar de proveitoso para a vida eterna! A verdadeira vida do cristão é, portanto, tudo fazer por estar em contínua união com Cristo, sendo ininterruptamente fiel a seus mandamentos. Feliz o batizado que observa tudo que Jesus preceituou nele continuamente crescendo e amando sinceramente o próximo. Lembra então São João que aquele que é fiel ao divino Redentor mora em Deus e Deus nele (1 Jo 3,23-24) Eis porque somente o amor vivido em ato e em verdade e a marcha no caminho de Jesus sob a luz da fé dão   sentido e valor à existência humana. O importante é a autenticidade da vida do batizado. Cada instante de sua existência bem vivida. Então, sim, está aí alguém que pode dar bons frutos. Para que tudo isto ocorra é preciso que o homem exterior se vá desfazendo em nós e o homem interior vá se renovando dia a dia (2 Cor  4,16). Nunca agradeceremos demais ao Senhor por ser Ele a verdadeira vinha e que Ele faça sempre de nós uma vinha digna dele, fiéis a seus mandamentos, jamais nos separando dele. É necessário estar atentos à presença da seiva divina em nós para poder dar bons frutos. Esperá-los, porém humildemente, pacientemente, pois eles virão na hora demarcada por Deus, desde que haja total fidelidade à ação da graça divina. Isto é que se deve examinar à hora das orações, sobretudo no instante da Comunhão eucarística. Então se verá se a união com Cristo está repercutindo por toda parte Quem vive em união mística com Jesus deve dar furtos onde quer que  esteja.