CIDADE

A Sagrada Família

Artigo escrito pelo Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho, professor no Seminário de Mariana durante 40 anos


Publicado em: 07/01/2022 às 14:37hs

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Após o Natal celebramos no domingo subsequente em uma mesma solenidade as três pessoas que formam a Sagrada Família de Jesus, Maria e José. Nós os festejamos não cada um por eles mesmos, mas enquanto formam esta entidade particular que é a família humana do Filho de Deus Um trio glorioso e santo devido os prodígios da graça operados em cada um de seus membros como pela missão a eles destinada pelos desígnios de Deus.

A Sagrada Família é um modelo para todas as famílias cristãs que devem viver os valores da vida familiar. Note-se a disponibilidade em acolher os planos divinos e sua atitude de serviço para realizar o que lhes pedia a vontade do Ser Supremo. O anúncio feito a Maria e a São José, o nascimento de Jesus e depois a fuga para o Egito e a vida oculta em Nazaré, em todas estas etapas a Sagrada Família foi no mais alto grau uma comunidade na qual resplandeceu uma fé admirável, comunidade de oração contínua e na qual brilhou sempre o senso do serviço dentro de casa ou na modesta carpintaria.

Nela se contemplam, de fato, as mais peregrinas virtudes, numa abertura ininterrupta à presença e à obra de Deus em todos os momentos de sua existência. Nossas famílias, na medida do possível, devem ser, como a família de Nazaré, comunidades de fervor religioso numa atitude sempre serviçal. A aceitação dos preceitos divinos e a obediência às inspirações do Ser Supremo precisam fluir da experiência humana de um amor sinceramente revivido que une pais e filhos. Eis aí o caminho no qual devem estar engajadas as famílias cristãs, caminho no qual rebrilhem a graça divina e o verdadeiro amor. O distintivo da família cristã é querer descobrir e desenvolver o amor mesmo de Deus no seio da dileção humana individual, conjugal e familiar.

É no cotidiano de nossas vidas que a graça divina se manifesta. Maria e José não procuraram nada de extraordinário, mas estavam abertos à obra extraordinária do Ser Suprem. Fizeram-se deste modo um exemplar magnífico. Mais que toda outra realidade espiritual o sacramento do matrimônio, que fundamenta a família cristã, é o modelo do humano aberto ao divino. Formando uma comunidade de vida e de amor, a família cristã testemunha a aliança fiel e fecunda que nosso Deus Trindade, Deus Uno e Trino, propõe aos homens. Vivendo isto no cotidiano, no decurso de sua existência, a família permite a seus membros realizar o verdadeiro amor que leva a uma santidade profunda na vivência dos valores familiares.

A Sagrada Família de Nazaré recorda todas estas verdades e mostra como a família deve ser um santuário do amor, da vida e da fé. O amor autêntico em ato é o coração da vida e da vocação familiar. Em Nazaré Jesus aos 12 anos crescia em sabedoria e graça se preparando para aos 30 anos começar sua vida pública. É no lar que se amadurecem aqueles princípios básicos que rebrilharão na vida prática. É preciso valorizar sempre o tempo de formação à luz das orientações do pai e da mãe, sobretudo numa época na qual impera a aceleração da história, muitos esquecidos que o tempo de Deus não é o tempo dos homens para um amadurecimento dos princípios que devem orientar a conduta do cristão. Notável a educação progressiva de Jesus ministrada por José e Maria.

Como diz o evangelista “Jesus progredia em sabedoria e graça diante de Deus e diante dos homens” (Luc 2,52). O Livro do Eclesiástico lembra que “o Senhor glorifica o pai nos seus filhos, fortifica o direito da mãe sobre eles” (Ec 3,2). A sabedoria que Jesus recebia na casa de Nazaré foi sem dúvida fruto também de uma profunda influência de José e Maria com sua presença sábia e afetuosa. Hoje mais do que nunca é preciso que a família assuma com energia a missão educadora que Deus lhe confia. Educar é introduzir na realidade o sentido do dever e da prática de todas as virtudes. Nunca se ressalta demais o valor dos princípios recebidos em casa, mormente num mundo no qual s maiores absurdos morais são difundidos pelos meios de comunicação social Jesus, enquanto homem, vivia na casa de Nazaré aprendendo naturalmente a ser virtuoso como eram constantemente José e Maria.

Nada mais valioso do que famílias santas, pois a família é o lugar da aprendizagem do amor e do serviços, valores essenciais para que cada ser humano possa na idade madura irradiar os princípios morais deixados por Jesus. Nas palavras e nos silêncios de Maria e de José que acompanhavam Jesus na sua vocação de salvador da humanidade, se descobre a profundada de um amor que sabe estar presente numa educação que leva à responsabilidade de um serviço dedicado ao próximo, dando cada um o melhor de si mesmo, devido a um trabalho de conversão contínua.

A família se torna então verdadeiramente uma Igreja doméstica resplandecendo à luz oferecida por Jesus, Maria e José. Magníficas lições que fluem das considerações sobre a família de Nazaré!