CIDADE

A faca e o queijo

Artigo escrito pelo Prof. Dr. Ítalo I. C. Stephan Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo Departamento de Arquitetura e Urbanismo - UFV


Publicado em: 18/11/2021 às 16:30hs

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Viçosa, apesar de apresentar alguns problemas em relação ao seu desenvolvimento urbano e humano, tem muito potencial pelos seus atributos geográficos (porte demográfico favorável, localização estratégica na Zona da Mata Norte), educacionais (UFV, Univiçosa, Coluni) e pelas suas especificidades (alto índice de desenvolvimento humano, cidade universitária de importância nacional, cidade polo microrregional, várias conexões rodoviárias).

Viçosa, segundo o IBGE, tem alguns indicadores positivos, como o Índice de Desenvolvimento Humano - IDH - igual a 0,775, que a coloca em 11º lugar em Minas Gerais (para comparar: 0,778 de Juiz de Fora; 0,810 de Belo Horizonte; 0,724 de Ubá). No entanto, temos um grande contraste social dentre os mais ricos e os mais pobres. Viçosa apresenta uma taxa de escolaridade que a coloca na posição de número 97 dentre os 853 municípios mineiros. Isso não é bom para uma cidade educadora.

O Produto Interno Bruto deixa Viçosa na posição 224, sinal que é preciso melhora a economia. A taxa de mortalidade deixa Viçosa na posição 358, sinal de que há muito a ser feito na área. Essas posições precisam e podem melhorar. O campus da UFV realça o enorme contraste de paisagem, de renda e de infraestrutura, principalmente com os bairros mais afastados e populosos. Essas regiões são carentes de espaços para cultura, de postos de empregos. O bairro Santo Antônio, por exemplo, o mais populoso de Viçosa, não tem sequer uma praça. Vau-açu e Grota dos Camilos, crescem sem praças, sem espaços públicos destinados à cultura, esportes e lazer. A mobilidade urbana é difícil para grande parte da população, e é um desafio, ainda mis em tempos de custos altíssimos dos combustíveis. A qualidade das habitações de parcela significativa da população ainda se mostra precária.

Viçosa sedia uma Universidade que sempre figura em posição de destaque nacional (entre as 10-12 melhores em ensino, entre as 14-15 em pesquisa) e latino-americanos (entre as 20, segundo a Times Higher). No entanto, o que a destaca mais ainda é que está entre as 4 em inovação. Aí está um potencial que ainda não reflete no desenvolvimento do município. Empresários reclamam que as empresas não se instalam aqui. É preciso que o Poder Executivo, os gestores do município e da UFV ampliem os caminhos conhecidos. Temos um Parque Tecnológico que, a meu ver, ainda não decolou, temos incubadoras que originam negócios que se instalam fora dos nossos limites e temos uma classe empresarial forte.

Viçosa necessita diversificar sua economia, com esforços para fixar e desenvolver empresas de médio porte e de pequenas empresas localizadas nos bairros. Temos políticos influentes que demostram grande estima por Viçosa. Temos muita gente qualificada, um empresariado interessado, instituições de ponta e organizações capazes. Temos a faca e o queijo na mão para colocar os indicadores socioeconômicos em posições muito melhores. É necessário criar condições para segurar e desenvolver, ao menos uma fração do conhecimento aqui gerado. O que falta? Precisamos buscar uma visão pactuada, tendo como fim o desenvolvimento sustentável para o município. Para isso deve-se olhar para frente, ampliar o diálogo entre a UFV, o Poder Executivo e o empresariado, para desenvolver formas de avançar, de aperfeiçoar políticas públicas de saúde, de mobilidade urbana e de habitação de interesse social. É essencial diminuir as distâncias sociais, melhorar a qualidade das moradias, levar cultura e oportunidades às camadas menos favorecidas. O que estamos esperando?